segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Análise de kaspar hauser

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DA LINGUAGEM

Aluno: Yuri Ribeiro Fernandes
Período: 1º Norturno.

Atividade (10 pontos):


1. O filme “O enigma de Kaspar Hauser” (Werner Herzog, 1974) pontua situações peculiares que evidenciam a relação entre as linguagens e a apreensão da realidade. Baseado nesta indicação e na leitura dos textos, comente a posição do personagem principal, refletindo a relação que se propôs entre linguagem, pensamento e conhecimento da realidade extralingüística.


R. Kaspar Hauser viveu desde a mais tenra idade viveu em cativeiro, isolado de toda e qualquer sociedade. Quando apareceu misteriosamente em Nuremberg, cidade do interior da Alemanha, kaspar entrou em contato com uma sociedade e especialmente com um conjunto de linguagens.
Aqui entra um conceito um tanto controverso, principalmente se levarmos em consideração o pensamento e o conhecimento da realidade extralingüística. É talvez no texto de Julio Pinto que se encontre a chave para interpretar a posição de Kaspar Hauser diante da linguagem e da realidade extralingüística de Nuremberg. Vamos, porém, por partes.
Em primeiro lugar, considerando que Kaspar viveu toda a sua vida em cativeiro, e considerando que o mundo do lado de fora de fato existia, mas que ele não tinha conhecimento de tal mundo, dizemos então que Kaspar não conhecia a realidade extralingüística, de tal forma que o exterior de seu cativeiro era quase todo formado por “coisas” e quase nenhum “objeto”. Dessa maneira pode-se pressupor que Kaspar não tinha conhecimento de uma linguagem no sentido mais geral da palavra.
A pergunta que me faço agora é: Como o fato de Kaspar não conhecer a realidade extralingüística implica no não desenvolvimento da linguagem? A resposta se encontra agora no texto de Julia Kristeva que define, de certa forma, eu a linguagem só surge com a experiência. Por exemplo, alguém eu nunca na vida viu um martelo, não poderia descrever ou conceituar tal ferramenta, de forma que ela é uma coisa pra este alguém, mas na medida que ele entra em contato com o martelo, aquele conceito se internaliza em sua mente e se torna um objeto, e como conseqüência se torna uma linguagem. Desta forma a linguagem surge como experiência de um mundo extralingüístico através do pensamento.
Podemos então falar que é desta forma que Kaspar Hauser acaba conhecendo a linguagem quando entra em contato com os habitantes e com as coisas de Nuremberg. Ele através da experiência vai desenvolvendo uma linguagem e as coisas passam a significar algo para ele. Assim ele pode se expressar e se comunicar com os cidadãos de Nuremberg.



2. À medida que Kaspar Hauser apreende o código verbal e escrito, mais se evidencia sua perplexidade e distanciamento da sociedade representada em Nuremberg. No entanto, tal “estranhamento” é recíproco. Indique uma justificativa para esta precariedade da interação entre o personagem e a sociedade – que constitui o verdadeiro enigma-símbolo do filme.

R. O enigma do filme consiste em uma incompreensão mutua entre as pessoas e a sociedade e kaspar Hauser. A pergunta que é feita é por que isto ocorre. Decerto seria fácil para alguém, e diria até cômodo, afirmar que a incompreensão se dava por que Kaspar não tinha inteligência suficiente, ou capacidade mental suficiente para entender o mundo a sua volta. Esta seria uma opinião construída em cima de preconceitos sociais um tanto arraigados em nossa cultura, e não totalmente construída em cima de uma lógica totalmente valida.
Aliás, já que entrei no assunto, vale a pena ressaltar que talvez seja a definição de lógica que encerre em si toda o enigma da relação Kaspar sociedade. Como foi dito na primeira resposta, a linguagem se estrutura através da experiência. E antes de ter uma experiência na sociedade Kaspar teve uma experiência no cativeiro, eu o marcou como ser, mesmo não tendo consciência muito definida neste estágio, e depois que adquiriu uma linguagem, ela serviu não só para externar a consciência do mundo a sua volta, como também para externar o seu ser.
Mas isto não explica bem o que a lógica tem a ver com esta incompreensão. A lógica, como pensamento se estrutura toda em cima de uma linguagem e de um conhecimento de mundo. Desta forma, enquanto a sociedade tinha uma lógica baseada em determinado grupo de pensamentos e experiências, Kaspar montou a sua lógica em um grupo de pensamento e experiências diferente. Por exemplo, quando ele diz que o quarto é maior que a torre porque quando ele está no quarto, ele se vira e vê quarto de todos os lados, enquanto ele só vê a torre em uma perspectiva, é uma afirmativa totalmente fundamentada em uma lógica valida, porém para o sistema lógico de Kaspar e não da sociedade.
Desta forma ele não compreende de forma eficaz a sociedade, e a sociedade não o compreende, tornando todo o enigma do filme, em uma disparidade lógica.

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